Aplicações Tecnológicas
Esta seção objetiva apresentar exemplos de pesquisas que mostrem a relação tecnologia e a efetividade da intervenção. As pesquisas descritas aqui, não se restringem apenas as tecnologias assistivas desenvolvidas baseadas na ABA, pois o objetivo é mostrar de forma geral que elas podem ser utilizadas para auxiliar na efetividade da pesquisa.
Tecnologia
Dispositivos móveis e web.
Descrição
O trabalho de Whalen et al. (2006) propôs o TeachTown, desenvolvido baseado no Discrete Trial Training (DTT) e no Pivotal Response Training (PRT), para ser utilizado por crianças em idade pré-escolar com foco em ensinar uma variedade de habilidades socialmente significativas como: linguagem receptiva, compreensão social, autoajuda, atenção, memória, processamento auditivo e habilidades acadêmicas iniciais. Este estudo incluiu quatro crianças com diagnóstico TEA, pontuação média de 38 na Childhood Autism Rating Scale (CARS) e idade média de 4 anos. Para isso, foram realizados dois estudos, sendo que o primeiro teve como propósito investigar a eficácia do TeachTown na aquisição de linguagem receptiva, habilidades cognitivas e sociais. Um projeto de pré-teste/pós-teste foi usado para determinar a aquisição dos conceitos-alvo usando o TeachTown para todos os oitos participantes. Os resultados deste primeiro estudo foram gerados automaticamente pelo TeachTown é mostram que não houve diferença no desempenho das crianças com autismo em comparação com as crianças com outros atrasos no desenvolvimento. Todos os participantes, houve uma mudança significativa usando o TeachTown desde os pré-testes (média = 60,23, desvio padrão = 22,60) para os pós-testes (média = 92,38, desvio padrão = 8,00). Já o segundo estudo incluiu apenas as crianças com TEA e a linguagem, comportamentos sociais e inadequados foram observados para determinar se o uso do TeachTown impedia o uso espontâneo da linguagem e/ou isolamento social, para isso utilizou um desenho de linha de base múltipla. Os resultados deste segundo estudo mostram que as crianças, durante a linha de base, exibiram as seguintes médias de porcentagens aproximadas para: comentários espontâneos (0%, 50%, 18% e 4%); linguagem inapropriada (60%, 20%, 68% e 60%); comportamentos inapropriados (44,5%, 0%, 61% e 57%); contato visual (8%, 25%, 6% e 10%); e demonstração de afeto positivo (3%, 55%, 26% e 30%). Já durante o tratamento, foi observado as seguintes médias de porcentagens aproximadas para: comentários espontâneos (3,5%, 72%, 57% e 36%); linguagem inapropriada (5%, 20%, 20% e 30%); comportamentos inapropriados (25%, 1,6%, 17% e 38%); contato visual (26%, 68%, 43% e 22%); e demonstração de afeto positivo (51%, 46%, 40% e 48%). Os resultados ainda mostram que as crianças também usaram mais palavras por frase durante o tratamento (média = 2,14, desvio padrão = 0,61) com relação a linha de base (média = 1,41, desvio padrão = 0,73). Baseados nos resultados do experimento, é possível observar a eficácia no uso do TeachTown, ou seja, todos os oito participantes reterão as informações trabalhadas dos conceitos-alvo, além disso as quatro crianças com autismo tiveram mudanças significativas apresentando mais comentários espontâneos, menos linguagem inadequada, redução nos comportamentos inapropriados, aumento no contato visual e melhor demonstração de afeto positivo nas sessões de tratamento em comparação com as sessões de linha de base.
Tecnologia
Robôs
Descrição
A pesquisa de Huskens et al. (2013), fornece um exemplo da demonstração da eficácia de uma intervenção realizada por um robô em comparação com uma intervenção conduzida por um Analista do Comportamento para estimular crianças a realizarem perguntas. Os participantes desta pesquisa foram 6 crianças diagnosticados com TEA de acordo com os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), tinham idade entre 8 e 14 anos, que possuíam Quociente de inteligência (QI) acima de 80 e não foram capazes de iniciar uma pergunta após uma indagação de uma pessoa. Um delineamento de linha de base múltipla foi utilizado, assim a linha de base consistiu de três a cinco sessões individuais de 10 minutos cada, e dois psicólogos (treinadores) interagiram com as crianças. Já durante as sessões de intervenção todas as seis crianças receberam duas intervenções, uma intervenção conduzida pelo robô e uma intervenção conduzida pelo treinador humano. Todas as sessões de linha de base e intervenção foram gravadas usando uma câmera de vídeo para que os comportamentos alvos registrados pudessem ser analisados. A análise de dados envolveu primeiro a inspeção visual e o cálculo do número médio de questões auto iniciadas para os grupos experimentais durante cada fase com os respectivos desvios padrão. Em seguida, foi analisado o aumento no número de auto iniciações durante as fases, que foi determinado pelo cálculo de Taunovlap (Parker, Vannest e Davis, 2011). Em relação ao grupo experimental 1, durante a primeira linha de base, o número de perguntas auto iniciadas (de 1 máximo de 4) foi relativamente baixo (média = 1,17, desvio padrão = 1,40). Porém, o número de perguntas auto iniciadas aumentou durante a intervenção do robô para uma média de 3,92 e desvio padrão = 0,29. Em relação a segunda linha de base, o número de perguntas auto iniciadas permaneceu alto para todas as três crianças (média = 3,17, desvio padrão = 1,27). O número médio de perguntas auto iniciadas não aumentou durante a intervenção do treinador (média = 3,83; desvio padrão = 0,39). Por fim, durante a fase de acompanhamento, o número de perguntas auto iniciadas permaneceu alto (média = 3,75, desvio padrão = 0.62), mostrando que as auto iniciações foram mantidas. Já em relação ao grupo experimental 2, o número de perguntas auto iniciadas foi geralmente baixo durante a primeira linha de base (média = 0,25, desvio padrão = 0,62). O número de perguntas auto iniciadas aumentou durante a intervenção do treinador (média = 3,92, desvio padrão = 0,29). O número de perguntas auto iniciadas permaneceu alto durante a linha de base 2 (média = 3,33, desvio padrão = 1,23). Portanto, o número de perguntas auto iniciadas dificilmente aumentaria durante a intervenção do robô (média = 3,75, desvio padrão = 0,62). Durante a fase de acompanhamento, o número de perguntas auto iniciadas permaneceu alto (média = 3,92, desvio padrão = 0,29), mostrando que as auto iniciações foram mantidas. Baseados nos resultados da pesquisa, tanto uma intervenção conduzida por um robô, quanto uma intervenção conduzida por um terapeuta, foram eficazes em estimular questionamentos nas crianças com TEA.
Descrição
A pesquisa de Yun et al. (2017) avaliou e verificou os resultados de intervenções que utilizaram robô para auxiliar na melhoria de comportamentos em crianças com TEA. Assim, foi proposto um programa baseado no Discrete Trial Training (DTT) que trabalhou as habilidades de contato visual e reconhecimento de emoções. Foram selecionados quinze crianças com TEA, idades entre 4 e 7 anos, que apresentavam QI verbal de 60 pontos, tendo seus diagnósticos sido confirmados por um psiquiatra infantil certificado e educador especial experiente de acordo com os critérios do DSM-5, Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS) e Autism Diagnostic InterviewRevised (ADI-R). As crianças foram recrutadas e aleatoriamente designadas para o grupo de tratamento (GT – 8 participantes) ou grupo controle (GC – 7 participantes). No grupo de tratamento, com o objetivo de reduzir dependência da plataforma do esquema de intervenção e avaliar as consequências dos diferentes tipos de comportamento do robô nas atividades das sessões de tratamento, foram utilizados dois robôs, sendo que durante as quatro primeiras semanas o robô iRobiQ foi facilitador terapêutico e nas quatro semanas posteriores de ensaio clínico, utilizou-se o robô CARO. No GC, o facilitador foi um terapeuta humano treinado, o qual participou de todos os experimentos a fim de tronar suas decisões subjetivas mais fiéis. Ambos os grupos tiveram os mesmos procedimentos de intervenção, em que robô (GT) e terapeuta (GC) realizavam o contato visual e atividades de reconhecimento das expressões faciais das emoções. O iRobiQ e o CARO foram responsáveis pelas oito sessões clínicas do GT, já no GC o responsável foi o facilitador humano. Todas as sessões foram monitoradas, com objetivo de manter a fidelidade e a eficácia do tratamento. Os resultados do experimento envolveram as respostas dos pais aos questionários e as observações diretas das crianças selecionadas, além disso foi utilizado a versão coreana da Child Behavior Checklist (K-CBCL) como medida secundária dos resultados. O contato visual foi mensurado por observação direta e comportamentos específicos do sujeito em um período de 300 segundos em intervalos de 5 segundos, estas informações foram codificadas manualmente. Com isso, determinou-se a porcentagem do contato visual definida pela razão entre o número de intervalos de tempo em que o contato visual ocorreu no mínimo uma vez em cada 60 intervalos de tempo, sendo avaliada nos períodos pré e pós tratamento. Durante a linha de base a porcentagem do contato visual que foi mensurada durante a sessão de ADOS pré-tratamento, foi de 20% no GT e 17,4% no GC. Após a primeira sessão de tratamento houve um aumento significativo nas porcentagens iniciais, sendo que a porcentagem do GT (96,46%) foi maior em relação a do GC (68,57%). Após a oitava sessão de tratamento os percentuais médios do contato visual ainda permaneceram elevados no GT (86,8%) em comparação ao GC (69,8%), em relação a linha de base a frequência do contato visual aumentou para ambos os grupos (77,92% no TG e 73,81% no GC). Com relação a mensuração do reconhecimento facial das emoções, as porcentagens aumentaram em ambos os grupos de 16,25% na primeira sessão para 86,43% no GT e de 14,49% na primeira sessão para 90,68% no GC. Assim, os resultados desta pesquisa refletem a ideia de que robôs podem ser utilizados como facilitadores eficientes em intervenções para indivíduos com TEA, além disso é possível observar a eficácia do uso de robôs na melhoria do desempenho do contato visual em relação ao terapeuta humano.
Tecnologia
Software para Desktop
Descrição
A pesquisa de Moore e Calvert (2000) comparou o uso de um software que foi desenvolvido baseado em princípios de aprendizagem comportamental em relação a instruções realizadas pela professora para ensinar habilidades básicas de vocabulário para crianças com TEA. Fizeram parte desta pesquisa 14 crianças diagnosticadas com TEA com idade entre 3 a 6 anos. Medidas de aprendizagem (pré-teste/pós-teste) foram realizadas, assim antes do tratamento, um pré-teste consistindo de 18 substantivos foram distribuídos em flashcards. O tratamento promoveu o aprendizado dos nomes de seis substantivos-alvos não dominados pelas crianças anteriormente. Em uma fase de pós-teste, que ocorreu uma semana após o tratamento, a professora apresentou as crianças flashcards contendo os mesmos substantivos-alvos aprendidos. Para examinar os padrões de atenção, às crianças foram filmadas durante as condições de tratamento e a porcentagem total de tempo de “atenção” ou “desatenção” foram registradas para cada sujeito. Além disso medidas da motivação foram realizadas, após a sessão final de tratamento, as crianças foram questionadas se queriam continuar trabalhando ou ir brincar. Os resultados do tratamento demonstram que as crianças ficaram atentas 97% do tempo quando utilizaram o software e apenas 62% quando estavam com a professora; aprenderam 74% dos substantivos alvo utilizando sistema e apenas 41% na condição da professora; por fim, 57% das crianças tinham interesse em continuar o tratamento utilizando o software, em comparação com nenhuma das crianças gostaria de manter o tratamento na condição da professora. Além disso, os resultados demonstraram que estimular a atenção visual das crianças contribui para uma melhor memorização. Assim, estas informações comprovam a eficácia no uso do software desenvolvido, pois concluiu-se que ele possibilita a ampliação da aprendizagem de palavras e aprendizagem, e maior estimulação do interesse pelas atividades, em comparação às crianças na condição de instrução direta.
Tecnologia
Jogos
Descrição
O trabalho de Chien et. al (2015) propõe o iCAN, um aplicativo implementado baseado no conceito de Sistema de Comunicação por Troca de Imagens (Picture Exchange Communication System – PECS), cujo objetivos foram melhorar o processo de aplicação do PECS feito por meio de cartões ilustrados em papel e também melhorar o progresso do aprendizado cognitivo, de linguagem e comunicação. O iCAN foi testado por onze crianças com autismo, com faixa etária de 5 a 16 anos, diagnosticadas com autismo de moderado a grave e habilidades verbais comprometidas. Em comparação com a abordagem tradicional do PECS para criação e recuperação de cartões, os profissionais conseguiram realizar as tarefas de forma mais rápida. Além disso, os resultados mostraram um aumento nos comportamentos atencionais das crianças e na motivação de aprender e interagir com outras pessoas.