Aplicações Tecnológicas
Esta seção objetiva apresentar exemplos de pesquisas que mostrem a relação tecnologia e comportamento alvo que necessita ser modificado por uma intervenção. As pesquisas descritas aqui não se restringem apenas a tecnologias assistivas desenvolvidas baseadas na ABA, pois o objetivo é mostrar de forma geral que elas podem ser utilizadas para auxiliar no tratamento de diferentes comportamentos, habilidades ou barreiras.
Tecnologia
Dispositivos móveis e web.
Descrição
O trabalho de Whalen et al. (2006) propôs o TeachTown, desenvolvido baseado no Discrete Trial Training (DTT) e no Pivotal Response Training (PRT), para ser utilizado por crianças em idade pré-escolar com foco em ensinar uma variedade de habilidades socialmente significativas como: linguagem receptiva, compreensão social, autoajuda, atenção, lembrar, processamento auditivo e habilidades acadêmicas iniciais (todos comportamentos cúspides). Este estudo incluiu quatro crianças com diagnóstico TEA, pontuação média de 38 na Childhood Autism Rating Scale (CARS) e idade média de 4 anos. Os resultados mostraram que todos os participantes obtiveram mudanças significativas nos comportamentos, melhorando a comunicação social e diminuindo comportamentos inadequados.
Descrição
O estudo de Crutchfield et al. (2015) teve como objetivo investigar a eficácia do auto monitoramento para diminuir comportamentos estereotipados de sujeitos com TEA, utilizando o aplicativo I-Connect. Este estudo envolveu dois alunos com 14 anos de idade que recebiam serviços de educação especial por causa do TEA e apresentavam comportamentos estereotipados. Os alunos apresentaram QIs na faixa de 53 a 54 pontos e habilidades adaptativas na faixa moderadamente deficiente (54 a 58 na escala Vineland Adaptive Behavior Scales, Second Edition – VABS-II). Os resultados indicaram que ambos os participantes demonstraram uma diminuição imediata no nível de estereotipia com o uso do I-Connect durante a intervenção, por outro lado, há uma indicação clara que na ausência do I-Connect teve um aumento constante no comportamento alvo ao longo do tempo.
Este caso é especialmente relevante porque o auto monitoramento é uma cúspide comportamental porque o indivíduo pode monitorar inúmeras instâncias de seu próprio comportamento e modifica-las conforme melhor lhe aprouver, mas também porque trata-se de um processo fundamental de empoderamento da própria pessoa com deficiência, que passa a ser mais capaz de modificar seus próprios comportamentos, sem depender necessariamente da decisão e observação de outrem, aproximando-se do ideal da autonomia que é sempre o objetivo fundamental da intervenção.
Tecnologia
Robôs
Descrição
A atenção de crianças é uma habilidade socialmente significativa e foi monitorada por meio de gravação de vídeo enquanto a criança interagia com um robô durante sessões de ABA. A pesquisa de Dickstein-Fischer et al. (2017) envolveu crianças de 5 a 8 anos de idade diagnosticadas com TEA, variando do nível de moderado a severo. As tarefas deste robô são implementadas utilizando o Ensino por Tentativas Discretas (Discrete Trial Teaching – DTT). Por meio de expressões faciais, movimento do corpo, dicas verbais, rastreamento baseado em visão o robô interage com uma criança. A avaliação qualitativa da orientação do olhar e da face da criança nos dados de vídeo gravados mostrou que as crianças ficaram mais envolvidas (atenção) durante as sessões que envolveu o robô, além disso, o tempo das sessões foram cerca de 50% mais curtos. A saber, comportamentos atencionais são cúspides, pois permitem acesso a novas aprendizagens impossíveis sem sua aprendizagem prévia.
Tecnologia
Software para Desktop
Descrição
O objetivo do trabalho de Cummings e Saunders (2019) foi fornecer aos profissionais informações de como utilizar o Microsoft Power Point 2016 para automatizar o processo de aplicação do Matching-to-sample (MTS), por exemplo, em intervenções que envolvem sujeitos com TEA. Em cada tentativa, o sistema projetado apresenta uma série de três imagens (um Estímulo Discriminativo e dois Estímulos Delta – isto é, distratores) e um áudio (estímulo modelo ou estímulo condicional). Se a criança tocar na imagem correta, um reforçador (áudio, vídeo, etc.) é apresentado pelo sistema. Caso a criança não acerte a imagem o sistema não apresenta nenhum reforço.
Tecnologia
Jogos
Descrição
Tendo como objetivo ensinar habilidades socialmente significativas de alfabetização para crianças com TEA em idade escolar, especificamente a leitura, (SERRET et al., 2017) desenvolveram um jogo sério chamado SEMA-TIC, que se baseia em habilidades cognitivas não verbais e usa estratégias de aprendizagem específicas adaptadas às características de indivíduos com autismo. Fizeram parte deste estudo 25 crianças com TEA, idade entre 6 a 11 anos, com limitações verbais (Childhood Autism Rating Scale-Translated (CARS-T) ≥ 3), e raciocínio lógico ≥ 15 (pontuação bruta) aferido pelo Raven’s Colored Progressive Matrices (RCPM). Os resultados da aplicação do SEMA-TIC indicaram uma usabilidade adequada, pois todos os participantes conseguiram jogar adequadamente e se engajar no treinamento (adaptabilidade); progredir na série e completar o treinamento (eficiência); e adquirir e melhorar algumas habilidades de alfabetização (eficácia). As habilidades de alfabetização melhoraram significativamente após o treinamento. Como já descrito, os comportamentos de ler e de escrever com compreensão abrem inúmeras possibilidades de novas aprendizagens e acesso a reforçadores.